Fechar

Minas perde quase R$ 1 bilhão com contrabando de cigarros eletrônicos

Pesquisador da USP defende legalização dos populares “vapes” como parte da solução

Minas Gerais deixou de arrecadar R$ 912 milhões em impostos por causa da venda ilegal de cigarros eletrônicos neste ano. Estudo realizado pela Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) da Universidade de São Paulo (USP) aponta o Estado em segundo lugar no ranking de potencial arrecadação de tributos estaduais e federais, caso a comercialização fosse regularizada. São Paulo lidera a lista, com projeção de R$ 1,6 bilhão.

A venda, como também a publicidade sobre dispositivos eletrônicos para fumar é proibida no Brasil desde 2009 pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Em abril deste ano o órgão expandiu a proibição para fabricação e transporte dos produtos. Conforme a pesquisa, a legalização dos populares “vapes” poderia gerar R$ 7 bilhões ao ano em tributos. Até 2028, número poderia chegar a R$ 10,3 bilhões.

Apesar da proibição pela Anvisa, o consumo está em alta. Dados do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) revelam que o número de consumidores no país chegou a 2,9 milhões em 2023, alta de 600% nos últimos seis anos. Só em Minas, cresceu 500% no mesmo período.

Proibição abre caminho para o crime, diz pesquisador
De acordo com Vinícius Dalbelo, coordenador de operações da ESEM, a proibição abre espaço para organizações criminosas comandarem o mercado do produto no país. “Quando temos proibições parciais ou totais, isso afeta a oferta, mas dificilmente afeta a demanda. Quem vai suprir essa demanda costuma ser o crime, seja ele organizado ou não”, diz Dalbelo. “Os produtos se tornam ilícitos e acabam sendo supridos no mercado por essas organizações criminosas que fornecem esses produtos”, ponderou o coordenador da pesquisa.

Segundo Dalbelo, os cigarros eletrônicos contrabandeados são adquiridos principalmente no Paraguai e com custo baixo, sendo oferecidos a preços acessíveis para o consumidor no Brasil. O pesquisador destaca ainda que o crescimento contínuo do consumo, mesmo na ilegalidade, levanta questões sobre a eficácia das políticas atuais.

Questionado sobre as soluções para o problema do contrabando, Dalbelo destacou que não há uma “resposta clara”. Afirmou que as forças policiais aumentaram a fiscalização sobre o comércio ilegal, mas considera que muitas vezes esses trabalhos não são suficientes e acabam tirando recursos de outras fiscalizações.

“Temos uma fiscalização que precisa dar conta de muitos produtos. Existem uns mais relevantes que outros. Quando você aumenta a fiscalização dos cigarros eletrônicos, você acaba perdendo recursos humanos para fiscalizar armas e drogas, que acabam entrando mais no país”, disse.

Para Dalbelo, a legalização do cigarro eletrônico seguindo as mesmas regulações e taxações do tabaco tradicional resolve parte do problema. “A legalização vai reduzir a competitividade do produto ilícito. Se o consumidor vir que pode comprar o produto de forma legal, muitos vão optar por isso”.

Como é a fiscalização para reduzir o contrabando de cigarros eletrônicos?
A Polícia Militar de Minas afirmou que “realiza diuturnamente operações preventivas e repressivas qualificadas em todo o Estado” voltadas a combater o contrabando. “As operações são realizadas tanto nos municípios quanto nas rodovias, com o apoio do Serviço de Inteligência da corporação”.

A Reportagem entrou em contato com a Polícia Civil e com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP) para buscar dados de apreensões de cigarros eletrônicos em Minas. Ambas corporações afirmaram não ter detalhes sobre apreensões apenas dos dispositivos eletrônicos, mas de contrabandos em geral.

error: Content is protected !!
Rolar para cima