Cientistas mineiros encaram missão na Antártica para avaliar mudanças climáticas

Mais de 20 mil quilômetros da costa do continente serão percorridos até 25 de janeiro

Desde 2002, pesquisadores da UFV participam de expedições na Antártica (UFV/Divulgação)

A partir de amanhã, o Brasil vai liderar uma das mais ambiciosas missões à Antártica: a Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica. Mais de 20 mil quilômetros da costa do continente serão percorridos até 25 de janeiro por 61 cientistas, sendo dois de Minas. A meta é chegar o mais perto possível das frentes das geleiras, com o objetivo de buscar respostas que os solos gelados podem dar ao entendimento das mudanças climáticas.

Também participam da expedição pesquisadores da Argentina, Chile, China, Índia, Peru e Rússia. Dentre os 61 cientistas, 27 são brasileiros. Os mineiros são professores do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV): Márcio Rocha Francelino e José João Lelis de Souza.

Eles e pesquisadores de diferentes áreas coletarão amostragens ao longo da costa para a realização de estudos biológicos, químicos e físicos. A expedição também incluirá um levantamento aéreo inédito das massas de gelo.

Segundo o coordenador geral da expedição e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Cardia Simões, em 2016/2017 alguns cientistas brasileiros já participaram de uma expedição semelhante, mas esta será mais ambiciosa sob o ponto de vista científico.

“O pioneirismo da nova expedição está em ser realizada o mais perto possível da costa da Antártica. Esperamos ter dados sobre a linha de flutuação das geleiras e, simultaneamente, apoiaremos um levantamento geofísico dessas frentes de geleiras para entender como elas respondem ao aquecimento da atmosfera e do oceano”.

Participação mineira
Márcio Francelino e José Lelis, da UFV, se dedicarão exclusivamente aos estudos sobre solos gelados, chamados de criossolos. A universidade tem tradição em pesquisas nesta área. Desde 2002, pesquisadores participam de expedições à região da Antártica Marítima, que incluiu o entorno da Estação Brasileira Comandante Ferraz, que representa a área que vem registrando as temperaturas mais elevadas do continente.

Nas viagens anuais no verão antártico, os pesquisadores já instalaram 29 sítios de monitoramento da temperatura e umidade do solo e geraram um precioso banco de dados de solos de uso internacional.

Desta vez, eles irão mais longe, circundando todo o continente e percorrendo nove estações de pesquisas de outros países. Nelas, já existem resultados de estudos sobre temas diversos, como biomas e fauna, mas não sobre solos.

“O solo é como um livro, ele conta a sua própria história, mas é preciso saber ler”, disse João José Lelis, que fará a quarta viagem ao continente. “Poderemos descobrir quando as geleiras descongelaram, se já houve cobertura vegetal e presença de animais em todo o processo de evolução da região”, acrescenta.

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Ao professor Márcio Francelino caberá olhar para o futuro. Em sua 17ª viagem à Antártica, desta vez, ele instalará sensores de monitoramento de temperatura nas nove estações internacionais com capacidade de gerar informações de hora em hora, enviadas por satélite.
“Se ocorre aquecimento, o permafrost se aprofunda; se ocorre resfriamento, ele chega mais próximo da superfície. Isso o torna um eficiente sensor das variações do clima e nos permite modelar o que pode acontecer por aqui”, conta.

Os sensores também permitirão avaliar a emissão de gases de efeito estufa nas áreas livres de gelo, principalmente naquelas que vêm sendo recentemente expostas com o recuo das geleiras.