Infecção pelo patógeno pode causar necrose de tecidos e ocorre normalmente em indivíduos imunocomprometidos
Esporos do fungo estão presentes em material vegetal em decomposição
DIVULGAÇÃO/ZYGOLIFE RESEARCH CONSORTIUM
Autoridades sanitárias de Santa Catarina investigam um caso suspeito de mucormicose, infecção popularmente conhecida como ‘fungo negro’, em um paciente de 52 anos que teve diagnóstico confirmado de covid-19. Na Índia, a doença provoca uma epidemia em algumas localidades, também em pessoas infectadas pelo coronavírus.
A DIVE (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) de Santa Catarina informa que notificou o Ministério da Saúde na última sexta-feira (28).
“Assim que tomamos conhecimento do caso, seguimos o protocolo e informamos imediatamente ao Ministério da Saúde que emitiu um alerta nacional por meio da rede CIEVS dos estados. Além desse procedimento, continuamos acompanhando e prestando apoio ao município de Joinville na investigação do caso”, disse o Superintendente de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, por meio de nota.
Segundo o órgão, diversos estudos estão sendo realizados no mundo para verificar possíveis a relação entre a mucormicose e a covid-19, “especialmente os que apresentam quadros de comorbidades e situação de imunossupressão”.
A mucormicose é uma infecção causada por vários organismos fúngicos da ordem Mucorales. A contaminação ocorre por meio da inalação de mofo mucoso, normalmente encontrado em plantas, frutas e vegetais em decomposição.
A doença não é contagiosa, o que significa que não pode se espalhar pelo contato entre humanos ou animais. Mas ela se espalha a partir de esporos de fungos que estão presentes no ar ou no ambiente, que são quase impossíveis de evitar.
De acordo com o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, “a maioria dos sintomas frequentemente resulta de lesões necróticas invasivas no nariz e no palato, acompanhadas de dor, febre, celulite orbitária, proptose e secreção nasal purulenta”.
“Podem ocorrer sintomas do sistema nervoso central. Sintomas pulmonares são graves e incluem tosse produtiva, febre alta e dispneia. Infecção disseminada pode ocorrer em pacientes gravemente imunocomprometidos”, ainda segundo o manual.
Indivíduos com diabetes não controlado, especialmente aqueles com cetoacidose, e pessoas que recebem o medicamento desferroxamina têm mais chances de desenvolver a mucormicose.
A forma mais comum da doença é a chamada mucormicose rinocerebral, que também costuma ser mais grave e até fatal. “A extensão progressiva da necrose, que envolve o cérebro, pode causar sinais de trombose do seio cavernoso, convulsões, afasia [alteração da capacidade de se comunicar], ou hemiplegia [perda dos movimentos]”, complementa o Manual Merck.
Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos mostram que a mucormicose tem uma taxa de mortalidade de 54%, que pode variar dependendo da condição dos pacientes e da parte do corpo afetada.
O tratamento é feito com medicamentos, sendo a anfotericina B em alta dose o mais indicado. O isavuconazol é uma opção, embora a eficácia seja limitada em pacientes mais graves. A remoção cirúrgica do tecido necrosado também deve ser feita.
Baixo oxigênio, diabetes, altos níveis de ferro, imunossupressão, juntamente com vários outros fatores, incluindo hospitalização prolongada com ventiladores mecânicos, criam um ambiente ideal para contrair mucormicose, escreveram pesquisadores na revista Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews.
Especialistas relataram à agência Reuters que o uso excessivo de alguns medicamentos necessários no tratamento da covid-19 pode estar suprimindo o sistema imunológico de determinados pacientes, aumentando o risco da mucormicose.
A possível relação entre o uso de cilindros de oxigênio causa divergência entre médicos, bem como a limpeza dos ambientes hospitalares.
“Há muita contaminação nos canos usados para o oxigênio, nos cilindros que estão sendo usados, nos umidificadores usados. Se você está imunossuprimido e tem estado nesses tubos e oxigênios por um longo período de tempo, então essas infecções têm uma oportunidade muito maior de entrar”, disse à Reuters Nishant Kumar, oftalmologista do Hospital Hinduja em Mumbai, na Índia.
Por outro lado, SP Kalantri, médico-sênior e pesquisador do Instituto Mahatma Gandhi de Ciências Médicas em Maharashtra, afirma que os hospitais indianos estavam nas mesmas condições antes do pico de infecções por covid-19, em abril.
“Os hospitais estavam sujos mesmo antes de abril. Precisamos de estudos epidemiológicos para avaliar por que esses casos estão aumentando agora.”
FONTE-R7